Se você adora chocolate, pode se decepcionar com esta notícia. Caso você não costume comprar chocolates em lojas especializadas ou de marcas importadas, é muito provável que ande experimentando apenas tabletes de gordura com açúcar e flavorizantes.
Segundo o produtor de cacau Marco Lessa, presidente da Associação de Turismo de Ilhéus (BA) e organizador do Festival Internacional de Chocolate e Cacau, um a cada três chocolates vendidos no país não pode realmente ser considerado como chocolate.
Embora ele não traga dados de pesquisa, sua ideia comprova o que consumidores mais atentos já reclamavam há anos: o que é comercializado em mercados e lojas brasileiras geralmente não passa de doces com sabor de chocolate.
Segundo ele, nem mesmo os chocolates amargos saem ilesos. Com a divulgação focada em um suposto alto teor de cacau (50% a 70%), eles são produzidos em grandes indústrias e vendidos por um preço mais alto, mas segundo o produtor, isso não é fiscalizado. “Dizem que têm 70%, mas não têm. Não existe fiscalização para confirmar esse percentual”, diz ele.
“O que o brasileiro encontra nas prateleiras de supermercados, vendido como chocolate, é apenas doce, não chocolate”. Ele ainda complementa: “Estimo que um terço dos chocolates esteja nessa situação. Esses não devem ter nem 5% de cacau”.
A Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) emitiu nota sobre o assunto e afirma que qualquer produto com menos de 25% de cacau em sua receita é considerado apenas como um “doce sabor chocolate” e deve levar essa identificação em sua embalagem.
No entanto, a associação, que representa grandes marcas, como Garoto e Nestlé, não comentou as denúncias feitas sobre irregularidades. Para Lessa, não é preciso técnicas avançadas para perceber o problema. “Basta comer algumas vezes um bom chocolate para saber que muitos dos vendidos por aí não têm o teor de cacau prometido.”
Os maiores problemas nas irregularidades estariam ligados à qualidade do sabor e aos prejuízos à saúde do consumidor. Para substituir o cacau e recriar a textura, o aroma e o gosto do chocolate, as indústrias abusariam de outros ingredientes que fazem mal para a saúde, como a gordura e o açúcar.
Embalagens omitem informações
Uma pesquisa divulgada em março deste ano pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) já havia alertado que faltam informações em rótulos de chocolates nacionais.
Entre nove marcas pesquisadas (Arcor, Garoto, Hershey’s, Kopenhagen, Lacta, Montevérgine, Nestlé, Toblerone e Top Cau), apenas Montevérgine e Hershey’s responderam ao questionamento sobre a quantidade de cacau. Nestlé e Garoto afirmaram que esse seria um “dado sigiloso, por se referir à formulação do produto”.
Embora não exista nenhuma lei que obrigue os fabricantes a informarem a quantidade de cacau, para o instituto essa seria a forma mais transparente de garantir a qualidade do produto.
Segundo informações do UOL, Ana Paula Bortoletto Martins, nutricionista do Idec, reforçou a importância da prática já na época da divulgação da pesquisa: “Seria muito importante que o teor de cacau viesse impresso no rótulo. Fica a sensação de que essa informação é uma estratégia de marketing, usada apenas quando isso é conveniente aos fabricantes”.
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